Autora: Lygia BojungaAno: 1996Páginas: 140Idioma: PortuguêsEditora: Casa Lygia Bojunga
Raquel é uma menina muito simpática que guarda consigo diversas vontades: de ter nascido menino, de ser gente grande e de ser escritora. No livro, acompanhamos sua tragediaria tentando reprimir esses desejos, que vão sendo escondidos numa bolsa amarela, presente de sua tia consumista, que compra, compra e depois dá pra família de Raquel. Sempre que chegam os presentes da tia, a família toda já vai escolhendo com o que vai ficar e ela quase sempre fica sem nada, mas uma vez, sobrou uma bolsa amarela que era grande suficiente para guardar as vontades que ela não queria que ninguém visse.
Pra ela, nascer menino teria tornado sua vida mais fácil, sem tantas restrições, e ao ser grande ninguém a impediria de nada. É essa menina sonhadora e cheia de objetivos aparentemente incansáveis, que nos apresenta um mundo real e magico, que ao mesmo tempo que pode ser visto como infantil e questionar nossos papeis e o porque de certas classificações como "x coisa é de menino, x coisa é de menina".
Teve uma cena que me tocou muito e, acreditem, foi protagonizada por um guarda-chuva:
"Na hora do guarda-chuva nascer, quer dizer, na hora que ele foi feito, o homem lá da fábrica -que era um cara muito legal e que gostava de ver as coisas gostando do que tinham nascido -perguntou:
-Você quer ser guarda-chuva homem ou mulher?
E ele respondeu: mulher."
O homem da fabrica então fez um guarda-chuva rosa e florido (não precisava usar uma coisa tão considerada "de menina", mas eu amo rosa e gostei mesmo assim♥ se eu fosse um guarda-chuva iria mesmo querer ser cheia de flores). E logo após essa cena, Raquel confessa que também queria ter escolhido nascer menina. Foi aí que a vontade de ser menino começou a diminuir.
Mas esse simples guarda-chuva, que talvez fosse pra ser mais uma cena falando de gênero que se encaixa na história, me doeu e muito: o meu desejo de que também fosse assim com as pessoas cresceu. Eu posso não ter vivencia no que diz respeito a isso, aliás eu me identifico com meu gênero biologico, mas isso não me impediria de gostar e muito, se todas as pessoas nascessem com corpos em seu devido gênero (biologicamente falando), sem nascer no corpo "errado" ou ter que passar qualquer transtorno por isso.
Além da menina e a guarda-chuva, temos também Afonso (inicialmente chamado de rei), um galo que já estava cansado de ter que mandar nas galinhas (pra ele, elas deveriam decidir sozinhas o que fazer, o que os donos deles não concordavam), Terrível, um galo de briga que tinha tido seus pensamentos costurados para que ele pensasse somente nisso e uma família muito cativante onde as coisas aconteciam/eram decididas em conjunto. A família, cujo Lorelai acabou se tornando amiga de Raquel, pensava que cada um devia fazer uma coisa e revesar, pra ninguém achar que estava fazendo a mesma coisa demais.
A narrativa é muito inteligente, e inspirou outras escritoras, como Anna Claudia Ramos. Não é atoa, tenho certeza de que levarei essa história pra sempre comigo. É, ela se tornou muito especial e eu confesso que eu fiquei muito mal quando acabou.
Esse mundo mágico pra onde a Raquel me levou me marcou e emocionou tanto, que eu comecei a chorar no meio dessa resenha e o que era pra ser só mais um livro com o qual eu esbarrei nas minhas idas à biblioteca da escola, se tornou um dos meus favoritos. Essa história é um pedaço de mim agora, e eu sempre vou admirar a Lygia por ter me proporcionado um prazer tão grande ao ler este livro.
Esse livro é realmente muito bacana!
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