"(...) em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos. "
É com um dos trechos mais marcantes de Carolina Maria de Jesus, que eu anuncio o começo oficial do Eu Leio Mulheres*.
Velha conhecida das ativistas do feminismo, principalmente pelas mulheres negras, Carolina é uma escritora mineira semi-analfabeta, negra, favelada e com uma sensibilidade que desperta a curiosidade de todos que uma vez ouvem mesmo que um pequeno detalhe sobre sua vida.
Após a morte de sua mãe, mudou-se para a favela do Canindé (São Paulo) em 1947, momento em que surgiam as primeiras favelas. "Carolina construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer coisa que pudesse encontrar. Ela saía todas as noites para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família. Quando encontrava revistas e cadernos antigos, guardava-os para escrever em suas folhas." Seus primeiros escritos eram sobre seu dia-a-dia e um deles originou o livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, que foi vendido em mais de 40 países. Alguns de seus vizinhos, a maioria analfabetos, não gostavam muito da ideia de ela relatar os acontecimentos à sua volta "Você escreveu coisas ruins sobre mim, você fez pior do que eu fiz" gritou um bêbado certa vez.
“Carolina é uma escritora fundamental para entender a literatura brasileira, que é feita, em sua maioria, de autores brancos de classe média que dominavam a língua formal. Ela mostra a outra face dessa história, que passa a ser vista do ponto de vista dela, de baixo”, diz a professora Germana Henriques Pereira, da Universidade de Brasília, autora de O Estranho Diário de Uma Escritora Vira-Lata, um dos poucos trabalhos que analisam a obra de Carolina do ponto de vista da crítica literária, à reportagem da Carta Capital.
Não limitando suas palavras à literatura, publicou também um disco, onde encontramos canções como "O pobre e o rico", "Macumba" e "Quem assim me ver cantando."
Durante um tempo, houveram especulações e era questionado até mesmo se suas obras eram realmente de sua autoria, mas hoje vejo mesmo que em poucos lugares, a obra desta forte mulher ganhando força novamente e tenho que confessar, sempre me escapa um sorriso quando eu me deparo com algo sobre ela pela time line de uma rede social.
Suas obras
A mais conhecida: Quarto de Despejo é um diario. Escrito dia a dia. Caderno e mais caderno cheios pela letra de uma mulher. Recheados do cotidiano autêntico, vivido. A luta pela sobrevivência como ela é, em todos os "quartos de despejo" do mundo, à margem das grandes cidades. Quarto de Despejo é mais que isso. É reportagem, é romance, é história de um grupo humano em certa época do mundo. É a voz do povo, patética, lírica, sentimental, forte e inesquecível.
O duro cotidiano dos favelados ganha uma dimensão universal, na linguagem simples do diário de uma catadora de lixo.
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Quarto de despejo (1960)
Casa de Alvenaria (1961)
Pedaços de fome (1963)
Provérbios (1963)
Publicação póstuma:
Diário de Bitita (1982)
Meu estranho diário (1996)
Antologia pessoal (1996)
Onde Estais Felicidade (2014)
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