Resenha - Garotas de Vidro, de Laurie Halse Anderson

Autor: Laurie Halse Anderson

Editora: Novo Conceito

Páginas: 272

"Lia e Cassie têm sido melhores amigas desde o ensino fundamental, e cada uma desenvolveu seu próprio transtorno alimentar que as conduz ao desastre. Agora aos 18 anos, elas não são mais amigas. Apesar de suas desavenças, Cassie liga para Lia 33 vezes na noite de sua morte, e Lia nunca atende. Os acontecimentos cansativos, a culpa de Lia, sua necessidade de ser magra, e sua luta por aceitação são narrados em um fluxo quase poético de consciência nesta surpreendentemente nítida e perfeita narrativa em primeira pessoa."

A narrativa em primeira pessoa, que sempre nos aproxima dos personagens, desta vez trouxe uma riqueza de detalhes em fatores que eu já havia ouvido relatos, mas nunca realmente interpretado: Quando Lia falava em comida, automaticamente pensava em suas calorias. Também vemos ela relutando para mudar seus pensamentos em relação não só a isso.

"Eu não vou poluir meu interior com Bluberridazzlepops ou muffins ou pedaços esfarrapados de torrada, também. A humilhação de ontem e os erros passaram por mim. Eu sou brilhante e rosa por dentro, limpa. O vazio é bom. O vazio é forte." 

Ela vive se lembrando de "quando era uma garota de verdade" e é nesses momentos que conhecemos sua relação com Cassie, suas idas ao hospital e um pouco sobre sua fraca relação com a mãe.

Por alguns motivos Lia e Cassie deixaram de se falar, mas, na manhã anterior à sua morte, Cassie teria ligado. Trinta e três vezes. Seria uma ligação errada? Um trote? Lia não queria arriscar ter a amiga de volta para depois perde-la.

Depois da ligação de uma pessoa que trabalha no local da morte da amiga, Lia acaba indo até lá, mas não consegue revelar sua identidade. Ela não veria a pessoa que ligou novamente, não é? Não deveria. Mas, no velório, onde ela foi sem permissão, acabou reencontrando a pessoa... E agora os efeitos da morte da amiga estão cada vez mais visíveis.

A este ponto, toda a angustia vai ficando também em nós, é impossível não nos afetarmos pelo sentimento das duas. A visão de Lia sobre si mesma e o impacto de saber que o mesmo acontece com varias garotas reais, juntam-se ao sentimento que passamos a compartilhar com a personagem.

"Nada funciona, nada nunca funciona, simplesmente continua me matando por dentro."

Parece que sentimos cada vez que ela se auto-mutila. Eu cheguei a quase pular para o final do livro só pra ver o final feliz dela. Quase. Sabia que não devia.

"Meu estomago rosa de rato gosta de ser pequeno e vazio. Ele me odeia por empurrar
toda aquela comida para ele." 

É um livro de enorme carga emocional, em alguns momentos eu tive que parar, respirar um pouco, as vezes até andar por ai, pra depois conseguir voltar a ler. Por vezes, era um sentimento tão forte, que eu não poderia prosseguir a leitura.

Não vou negar que gostei bastante do livro em si, mas algumas pessoas podem se sentir um pouco mal ao ler. É um sentimento momentâneo? Provavelmente, mas também nos faz refletir.